top of page

Eduardo Santos

6 de abril de 2025

Inspirações

Buenos Aires, a inspiração para um perfume.

Os detalhes que resultaram em uma fragrância.
Fomos convidados para a maior feira de perfumaria nicho das américas (1).jpg

Algumas cidades se mostram pra gente. Buenos Aires é uma delas. Em Tango in B’Aires, nosso perfumista transforma vivências pessoais em narrativa olfativa — feita não de ruas e monumentos, mas de experiências e lembranças. O ponto de partida é um almoço aparentemente comum, mas inesquecível: uma salada de pera com blue cheese, servida no restaurante Novecento, no coração da Recoleta. A combinação contrastante entre o doce suculento da fruta e o sal do queijo azul cravou-se na memória do perfumista. Esse contraste virou nota de saída — um aroma frutado, sofisticado e envolvente. Mas essa não é uma pera qualquer: é uma fruta carregada de memória, de contexto, de afeto. Ela não apenas inaugura a fragrância — ela conta uma história. Como todo bom tango, começa suave, mas guarda em si uma intensidade contida. E como toda boa história, ela abre uma porta invisível: convida o olfato a entrar, se sentar, ouvir. E sentir tudo com o tempo que cada memória merece.

Compre agora Tango in B´aires.

Toda cidade tem um elemento que parece inventado — em Buenos Aires, esse papel coube ao Rio da Prata. Para o perfumista, que ali viveu, o rio era mar. Sua imensidão, o cheiro salgado e a cor indecisa criavam essa ilusão. A nota de água do mar no perfume nasce dessa confusão poética: não importa se é rio ou oceano, o que importa é a sensação. Se o rio nunca passa desapercebido, isso não é o mesmo para coisas pequenas, quase secretas, mas que também contam a história da cidade. Foi assim que, caminhando por San Telmo, o perfumista conheceu a Casa Mínima — uma fachada de apenas 2,5 metros de largura, com uma porta verde impossível de ignorar. Essa porta virou metáfora: daquilo que é estreito, mas profundo; discreto, mas inesquecível. E inspirou a nota verde e marcante de nosso perfume. Um toque misterioso que se impõe com delicadeza, abrindo a fragrância para um universo de lembranças escondidas, como se o aroma entrasse por uma fresta e ocupasse toda a casa.

Algumas memórias não são visuais nem gustativas. Elas são espaciais — ligadas ao volume do ar, ao som dos passos no chão de madeira, ao silêncio que envolve os livros. A El Ateneo Grand Splendid, uma antiga casa de espetáculos transformada em livraria, é uma dessas memórias. Ali, entre afrescos, palcos e camarotes esculpidos, o perfumista entendeu que certos lugares precisam de madeira para existir. As notas amadeiradas de Tango in B’Aires vêm desse entendimento: são estrutura, calor, acolhimento. Elas sustentam a composição como colunas invisíveis, dando corpo e reverberação à fragrância. E é nesse momento que o perfume deixa de ser um retrato e se transforma em presença. Tango in B’Aires é mais que um perfume: é um lugar para se entrar, explorar e sentir. Um mapa invisível de uma cidade que se revelou por inteiro a quem teve tempo de ouvi-la. E que agora, em forma de aroma, permanece — como um eco que insiste em voltar.

bottom of page